sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ALL THAT JAZZ




“All That Jazz”

Bessie Smith figura entre as principais expoentes do jazz americano. Unanimidade entre as décadas dos anos 20 e 30, a cantora teve sua morte precocemente decretada. Vítima de um acidente, Bessie foi rejeitada no hospital mais próximo por ser negra. A delonga na busca por assistência médica foi determinante para seu falecimento. Inquestionável a colaboração de Dave Brubeck para o gênero. Dave foi um dos cinco músicos de jazz a estampar a capa da revista Time. Estranho no ninho, Dave era branco. A canônica Ella Fitzgerald prestigiou a música brasileira e elevou-a para estágios superiores ao cantar o repertório de Tom Jobim em um dos seus mais aclamados discos. Mahalia Jackson quebrou paradigmas e produziu fusões do jazz com o soul, R&B e blues. Foi uma das primeiras negras a cantar no Carnegie Hall, o palco mais prestigioso de Nova York. O diabólico Thelonious Monk foi diagnosticado como doente mental. Leslie Gourse, principal biógrafo do pianista, atesta que o tratamento negligenciado não ofereceu chances de recuperação. Um dos mais respeitados historiadores britânicos do século passado era apaixonado por jazz. Ao abordar criticamente o movimento social por trás do gênero, com todos os seus protagonistas e relações, escondeu-se sob o pseudônimo de Frances Newton. O trabalho de cronista de jazz não poderia se confundir com a pesquisa acadêmica. O livro foi publicado em 1961 sem causar impacto. A segunda edição (e as demais) de “História Social do Jazz” (Paz e Terra, 2008) trouxe o real nome do autor: Eric Hobsbawm.


Em 1808 mais de meio milhão de escravos negros teriam deixado a pátria para ingressar como força de trabalho na expansão e crescimento das cidades americanas. As colônias e povoamentos negros recorreram às tradições africanas na manutenção dos mitos e ritos dos povos desfragmentados. A música possuiu papel fundamental na motivação e na realização dos afazeres e trabalhos braçais a que eram impostos. O Place Congo, em Nova Orleans, tornou-se palco de festivais de dança e percussão africana.

Aos poucos, os artefatos rudimentares trazidos pelos negros africanos foram substituídos por instrumentos europeus. Músicos negros passaram a tocar violino, piano, instrumentos de corda e sopro. A influência européia sobre a música afro-americana deu origem ao jazz.

O movimento surgiu no início do século passado e produziu diversas derivações. Ragtime, Dixieland, Swing, Bebop, Hardbop, Cool Jazz e Free Jazz foram algumas dessas ramificações. Igualmente importantes, as fusões jazzísticas causaram relevante contribuição no decorrer dos anos. Os encontros do jazz com o rock, blues e salsa foram celebrados em diferentes épocas. Mais modernos, o Nu Jazz e o Jazz Eletrônico clamam por novas gerações de apreciadores.


Eric Hobsbawm nos conduz sabiamente numa jornada que passeia pelos principais momentos da história do jazz. Obedecendo a uma ordem cronológica, o livro divide-se em 4 partes: 1) pré-história, de 1900 a 1917, solidificação da música negra nos Estados Unidos, 2) antigo, de 1917 a 1929, evolução musical do jazz, 3) médio, de 1929 a 1941, conquista de audiência européia e início da popularização americana, e 4) moderno, a partir de 1941, abrangência universal. Hobsbawn transcende a própria paixão pelo objeto de escrita, para possibilitar um texto crítico e adverso.

A genialidade de Hobsbawn permeia-se na maestria em tratar do jazz como matéria de pesquisa social. A constância racial na música incendiária dos becos negros e dos bairros étnicos americanos. A edificação de um estilo musical como expressão urbana de uma sociedade fundada em moralismos e princípios falidos. A música como elemento de resistência. As mutações no consumo de brancos e pretos. O jazz como entretenimento cultural de trabalhadores pobres. A história do movimento construída em paralelo com a sociedade americana contemporânea, seus preceitos e dicotomias.

A delicadeza e a lucidez de Hobsbawn ao abordar o embate vitalício entre os músicos de jazz e a indústria fonográfica são comoventes, e propiciam uma reflexão extrínseca às páginas do livro. Compreender o movimento é fundamental para separarmo-lo de causas descontextualizadas, meramente comerciais. As inconstâncias dos festivais de jazz atuais. A obviedade do repertório de Diana Krall. As canções de Baden Powell na voz de Jane Monheit. Norah Jones com standards tecnicamente impecáveis. Esperanza Spalging e Leny Andrade são raridades. Certamente, Hobsbawn as escuta.

O estilo, o ritmo, a cadência, a sonoridade e as referências do livro tornam a leitura deliciosa. Como a voz de Sarah Vaughn ou o sax de Charlie Parker. Sabor de jazz. Talvez seja este o maior trunfo de Eric Hobsbawn.

5 comentários:

Anónimo disse...

Absurda!!!! U blow me away!!!
Belíssimo ilustração do cenário do jazz. Uma aula!
Abraços,
Pedro

Anónimo disse...

Delícia!
Uma refeição completa este texto. Aperitivo, prato principal e sobremesa.

Vou agora colocar Ella para tocar!

Bon Apetit!

Sarahhhhh

Anónimo disse...

Obrigado por isso! Lírico!

Beijos,

Nessa

Anónimo disse...

Olá,

meu nome é Larissa, eu tenho 09 anos e minha tia da escola pediu um trabakho sobre um tipo de musica. Minha mãe carla pediu para eu ler seu texto, Eu gostei muito. você escreve dificil e palavras bonitas, mas eu entendi e tirei uma nota bem legal no meu trabalho. vc me ajudou muito, obrigado. minha mae fala muito bem das coisas que vc escreveu... ma ela diz que eu ainda não vou entender, so esse do jazz. entao eu leio os outeos depois...

bejos

sua mãe disse...
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