sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Pouco Eu Não Quero Mais

Algumas pessoas – pessoas felizes irritantes – acreditam no poder do pensamento positivo. Elas estão satisfeitas por estarem aqui, seja lá onde quer que aqui seja e acreditam que tudo aconteça por uma razão. Isso os separa estreitamente dos teóricos conspiradores, que acreditam que tudo ocorre por uma razão, mas uma razão ruim (e possivelmente judaica).

Eu mesmo sou um apreciador do pensamento negativo. Pessimista por natureza. Acordo diariamente me perguntando a tragédia do dia. O que acaba me causando certa ansiedade, mas prefiro o cotidiano suscetível a desventuras em série, do que dias prolixos e tão vazios. Entretanto, nos últimos dias, minha voraz expectativa por desgraças diárias foi globalmente aniquilada.

Os americanos felizes resolveram estourar a bolha de crédito. As igualmente felizes instituições financeiras (corre pelos corredores, que andam um tanto quanto bucólicas e introspectivas nos dias mais recentes, uma ofensa para os ensolarados dias de outrora), soltaram no mercado falido mais verba que deveriam. Pobre Milton Friedman, cujas lições (e ascensão heróica) foram jogadas a esmo com a própria economia mundial e suas bolsas (Louis Vuitton). Ironicamente, grandioso para o esquecido Keynes, que livrou a América de amargar posições hierarquicamente inferiores no ranking mundial após a queda de 29, e que retorna de forma triunfal, protagonista, como se Don Corleone estivesse vivo. Abram as cortinas.

Destarte, sigo inócuo diante do colapso financeiro. Acordei hoje me perguntando, como sempre, qual poderia ser o ápice negativo do meu dia. Crise Financeira!!! Está lá. Feito, nada a ser questionado. Posso priorizar meus compromissos. Quem sabe tomar um chá, ler crônicas despretensiosas ou divagar sobre Christopher Campbell. Não há ninguém com câncer. Se morreu alguém, mero figurante. Todos ainda me amam. Só há a crise. E quem há de discordar?!

Eu lhes digo: os otimistas! Cegos (que o diga Saramago) e potenciais responsáveis por essa crise (afinal quem não poderia prevê-la?!), já tecem jornadas e roteiros cinematográficos (à la David Lynch), para que possam rapidamente superá-la. Hipócritas. Tenho pena. Aguardo ansiosamente pelo desfavorável. Meus dias florescem quase poéticos. A pedra de Drummond é velha conhecida.

Otimismo é analogia franca e escancarada de um pessimismo alegre. Grifo meu.

Desafortunadamente e tragicamente (pelo vosso sacrifício), terei que encerrar prematuramente meus vocábulos, que vale ressaltar, foram apenas proporcionados pela falta de preocupações alheias e consequentemente, por uma mente vazia que vagueia em busca de desfechos rodriguianos. As cortinas teimam em não fechar. Se lhes compete, bati meu carro ontem. Nada muito apocalíptico. Uma faísca de gozo (regojizo) precoce. Preciso passar na AIG. Na AIG! Adorei! Que venha o pior. Mal posso esperar.

Texto de Diego Ponce de Leon

Inspirado livremente nos textos do blogueiro conservador (sim, eu leio os dois lados) Mac Johnson.

5 comentários:

Anónimo disse...

Strike Diego!!! Congratulations.

Anónimo disse...

Diego, estou em cólicas retorcentes para saber como foi na AIG. Na AIG! Adoro! De minha parte, acho que o novo crack que se anuncia está interferindo na conexão da internet - nunca vi tão lentaaaaaaaaa! E minha viagem internacional de fim de ano vai ficando cada vez mais para outro ano...
Adorei o texto. Tell me: onde vc guarda tanta informação e nome de gente velha?? Beijão!

Anónimo disse...

Muito bom o texto!!! Acho o máximo essa sua visão do contra, contestadora... Parabéns!

sua mãe disse...

Ainda que o titulo da cronica esteja retratando bem a intenção de seu texto...eu espero que a cada dia vc
"queria mais"...pois a cada dia que passa vc se torna mais BRILHANTE!
Parabéns e muito orgulho!Eu estarei na platéia da vida sempre torcendo po VC,filho!

Unknown disse...

Diegão,

na corrente desta semana recebi indicação de um blog que tipo está usando este seu texto! Nem sei se vc sabe ou deveria...rsrsrs.. mas de qualquer forma foi ótimo, pois achei fuderoso cara! Não tinha lido ainda.. felomenal!!! Divertido e culto! Sua cara!!! E claro o comentário eu teria que deixar aqui..
Abraços meu véio,
Felipe San