sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sou Brasileiro

Sou brasileiro. Tenho vergonha do meu país. Assisto perplexo as notícias que tangem a inevitável corrupção praticada por nossos eleitos. Políticos empossados com nossa benção protagonizam o mais assustador filme de terror já produzido. Digno de Bela Lugosi. Maior frustração é saber que esta película não atingirá um final feliz. Não há “mocinhos” na história e nosso herói é o principal bandido.
Servidores públicos atuam magistralmente em seus papéis que consistem na ação de omissão. Contribuem silenciosos e imunes de culpa, para que o grande desfecho trágico atinja seu ápice. Será o triunfo! Condecorações deveriam ser distribuídas para estes ineptos coadjuvantes. Políticos são peças fundamentais para esse enredo e seriam descritos por Nelson Rodrigues como “cretinos fundamentais” nesse roteiro. Como os figurantes malandros de “Cidade de Deus” e os personagens hipócritas de Fellini.
Nós, o povo, assistimos calados nossa própria desgraça, regados da ilusão de não sermos parte daquilo escancarado na tela diante de nossos olhos. Pagamos o ingresso. Destarte, propiciamos a existência deste entretenimento simplório, que de forma alguma jaz efêmero. Simplório somos e esta ignorância irrisória e característica, efêmera jamais fora. No final do filme, levantar-nos-emos e sairemos da sala de projeção. Munidos da vergonha daquela banalidade explícita, nada comentaremos. Afinal, qual o sentido de discutirmos algo tão natural e cotidiano? Alguém mais corajoso poderá comentar: “triste, não?!”. Será rapidamente tomado pela decepção ao receber como réplica: “faz parte” ou “é a vida, meu filho”.
Mas todos nós esperaremos ansiosos pela seqüência e mais uma vez lotaremos a sala de projeção. Enquanto a segunda parte não chega, continuaremos a acordar às 5 da manhã, iremos abandonar nossas famílias e partir em busca do soldo nosso de cada dia que garante nossa patética existência. Afinal, não recebemos auxílios pecuniários, pelos menos não em forma de esmola. Diferentemente daqueles do filme, patrocinados por nosso suor para continuarem atuando. Ora! Eles merecem! São pessoas de valor, cultos, que sacrificaram a vida inteira para escrever o nosso destino. “Até aí, morreu Neves...”.
Viva os filmes de Frank Capra, desprovidos de sensações intelectualizadas e conteúdo pragmático, mas protagonizados por pessoas comuns, como nós. Acima de tudo, repletos de finais felizes.

“Quem me dera ao menos vez (...) acreditar que o mundo é perfeito, que todas as pessoas são felizes.”

Sou brasileiro e já desisti há muito tempo.

Texto de Diego Ponce de Leon

6 comentários:

Luiz Andrade disse...

Talvez o pior de tudo isso não seja o ponto a que todo o escândalo e as maracutais tenham chegado, nem a constatação da realidade por uma pequena ( e seleta) parte da população, mas a inação e aceitação de todos. É incrível como pode-se passar horas reclamando sobre o que acontece e não fazer nada a respeito. O que se tornou a juventude de 60? O que será da juventude de agora?
Conscientização é o primeiro passo. O texto é muito bom =D

Marcela disse...

Belo texto. Estrutura impecável e vocábulario ousado. Conteúdo instigante e uma opinião argumentada. A analogia soa poética. Como jornalista te parabenizo. Recebi a dica de um amigo meu,Luíz, e me encantei com suas mal ditas... ao meu ver, muito bem ditas! Estarei sempre aqui acompannhando. Vale mais do que blogs de colegas, menos competentes.
Abraços

Olimpio Cruz Neto disse...

Diego,
O texto está ótimo, apesar do tom excessivamente pessimista - ou realista, se você quiser. Ânimo, rapaz. É para isso que todos nós estamos aqui: para mudar as coisas.

Johannes disse...

Caro amigo Diego, não diga que tem vergonha de seu país, mas sim dos governantes que fazem dele uma nação de escândalos. Esses sim merecem nosso repúdio. Já nosso país é maravilhoso e ainda merece nossa consideração e luta. Não desista! Ainda existem pessoas que de alguma forma fazem do Brasil um lugar melhor. Brasileiros anônimos que acreditam que nosso país um dia deixará de ser esse antro de corrupção. Utopia? Talvez seja. Mas não devemos entregar os pontos e perder a esperança. Acredite. Abraços!

Mangázushi disse...

Realmente o Brasil é o meu país, seria hipocrisia da minha parte falar que o texto não choca mesmo sendo de forma poética. Porém sabemos que as palavras que chocam sempre têm uma verdade. Sendo assim ler o texto pela primeira vez nossa reação é pessimista mas no fundo gostaria de saber quem de nós, brasileiros, não foi uma vez sequer pessimistas em relação ao nosso país . Feliz é aquele que ainda guarda uma esperança...
Eu tento acreditar que um dia minhas esperanças ainda a de voltar...
Parabéns Diego!!!

Vinicius Werneck disse...

Triste não!?


(Sem comentários)